sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

SENSAÇÃO E SENTIMENTO

Tem coisas que é melhor guardar para nós
Por isso que te guardo aqui no peito
Nesse momento
Nesse silêncio

Silencio e fico
Me pego sentindo
Fazer o que se ninguém mais faz sentindo?
O ser diferenciado que ficará só


Por enquanto


Talvez se adapte, talvez se envolva às mundanices
Também às tolices
Ai essa vaidade que me faz confusa
É meio difusa a imagem que tenho agora

Me empreste seus óculos?
Ou será esse só mais um motivo para estar perto de ti?
Meu pedido de socorro lhe chama atenção
Escrito SOS no mesmo silêncio que guardou algumas outras coisas

Cá no peito
Cá na mente
Cá em mim


Mirabólis que sois, pensamentos?


Pensei que havia ido de dentro de mim.


Não fui, quer dizer, fiz que fui, me escondi e aqui estou.


Ah, mas isso não se faz!


Desculpe, é que não soube como agir. Nem sei.


Ah seu palhacinho, sempre pregando peças, hã?
Ok, ok. Vamos juntos tentar resolver.
O que é isso, álgebra?


Não, não sei.
Só sei o que não deve ser e não deve ser álgebra.
Fosse assim um matemático ajudaria, pois sou péssimo com números.


Vá em busca da resposta meu filho e só volte quando tiver ao menos um vestígio.


Mas nem sei onde procurar!
Por isso me escondi, tinha medo. Não brigue comigo, sou muito novo, não aprendi lidar com todas essas coisas.


Chama-te de gato escaldado, que gato frouxo de apenas meia vida tu sois, hã?
Mais um sopro e morres.
Que fazes aqui, enquanto poderia estar gemendo em algum telhado?


Por queda?


Não seu tolo!
Ah, quer saber?
Cansei
Vá dormir



Joy Mafaro

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

NUMA LIGAÇÃO...

Sinto que urge desejo por minha pessoa
Ou surge um desejo de ser desejável
A presença é implacável
Palavras difundidas
Quebra-cabeça que tento montar
Um milhão, duas mil e vinte e quatro peças
Ainda chego lá!
Pessoa indecifrável
Ou eu que gostaria de desvendar o invendável?


Não tape a peneira com o sol que derreterá


E tudo o que eu queria era...
Não vou dizer!
Você também não diz
Não é medo
Não é birra
Não é nada
Só não quero tudo


Ah, vá!


Tá booommm, eu queria tudo e mais um pouco com cobertura de chocolate e uma cereja no topo
Não tem nem o que fingir
O que simular
Dissimula


O que disse?Mula?


Anta!Eu dissimulei


Taí, isso eu nunca disse: Mulei.
Mas se você acha que mulou, quem sou eu para discutir?
Uma anta já antou?
Desentendo desses teus conceitos
Vamos, faça direito


Mas nem sei fazer o que
Fazer o que?


É, fazer o que, né!
Deixa pra lá essa pouca bobagem


Do que está falando
Como assim?
Eu sou o Tico, você o Teco?
Alô!
Alô-ou!
Acho que caiu a ligação.



Joy Mafaro

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

SUTILEZA DO AMAR

Gostaria que ouvissem a melodia
A melodia que toca em mim
Que me faz querer colocar a todos para que sejam iluminados
Num verde e ensolarado jardim sem fim

Brincarmos como crianças
Lá somos seres puros como elas
O corpo nos torna seres rústicos
Tente não ser ao extremo

A tarefa é difícil
Mas sinta
Ele pulsa
O coração

E por que não?
Só olhe ao redor
E ame
Amar nunca é em vão

Ame sua vida
Sua vocação
Ame o seu ser
Com gratidão

Uma semente que se planta
Deve germinar
Cuide-a!
Pois o nosso amor é como um grão


Não deixe passar nada
Nem a ilusão
Alguém disse que tudo começa dela
Pois que seja assim então


Muita coisa não provém da razão
O que impulsiona
Deve ser o coração

Deixe que ele trabalhe
Deixe que ele siga,
E siga-o sem medida
O trilhar dele nem sempre será por lindos caminhos
Porém todos devem ser bem-vindos


Sempre acreditei que as dores
Nos levam a sermos melhores pessoas
Para nós, para o outro
Isso também não é amor?

Ame, mesmo que doa
Ame e muito
Ame de maneira a deixá-lo
Sem ar, sem saber o que dizer
Como dizer

Ame, mesmo que à distância
Sinta o fulgor
Boa essa palavra
Que esse fulgor
Tome sua alma
Acalente
E traga calma

Enche d'água o olho
De ar o peito
E ainda assim o olho não pestaneja
E de além ar o peito sente algo

Sinta a fragrância do amor
Borrifada no ar
Sinta sem intolerância
Deixe dentro pairar



Joy Mafaro

domingo, 23 de janeiro de 2011

MOMENTO

"Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos…
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.

Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.

Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.
. . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura."




Caio Fernando de Abreu

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

PRATO DO DIA

Nada nunca será igual.
Ilude-se quem pensa que sim.
E no final, é como um doce delicioso que deixa um gosto amargo.
A cada segundo, de alguma maneira, não somos mais os mesmos.
Mesmo que “sejamos”. De qualquer forma estamos um segundo mais velhos, um segundo mais mortos, um segundo mais experientes ou talvez até, um segundo mais tolos. Portanto não seremos nunca os mesmos.
Voltando aos doces que muito me apetecem. Nem eles têm o mesmo sabor da segunda vez, por N fatores: já não é o mesmo que se comeu da primeira vez ou foi feito por outra pessoa, outra indústria, outra máquina. Ainda que seja o mesmo da primeira vez, pode estar um pouco passado, o sabor não será mais novidade, etc.
Assim é a vida, cada coisa tem um sabor a princípio e depois muda.
Com certeza há os que mudam para melhor, lembro-me da primeira vez que tomei açaí. Estava experimentando uma colherada da singela tigela de uma amiga de colégio. Nossa! Quis cuspir na cara dela, de tão ruim que achei e hoje é uma das coisas que mais gosto.
Visto isso, percebido o fato da mutação.
O que fazer se o sabor ficou enjoativo ou se agora é bom?
Primeiro, é bom que não fique enjoativo, para tal, melhor não exagerar.
Segundo, tem doces que só sua avó, sua mãe, tia ou doceira preferida sabem fazer.Ou seja, existem os doces “únicos”.
Saindo dos doces, vai!
Seguem comparações, muito íntimas e pessoais:
Não há pão de forma mais gostoso que o meu. Ele representa o amor-próprio.
Não há pão caseiro mais gostoso que o de minha avó. Ele representa o amor em família.
Não há pão doce mais gostoso que o de minha madrinha. Ele representa o amor familiar/fraterno, independente de laços consanguíneos.
Não há bolo mais gostoso que o daquele aniversário de nem sei quantos anos. Ele representa o momento.
Poderia caracterizar mil coisas representando outras mil coisas aqui, todavia é só para ter uma noção de minhas comparações e o valor de suas unicidades.
Claro que, nem todo mundo que ler isso experimentou o meu pão, o da minha avó, de minha madrinha, muito menos daquele aniversário. Contudo todos temos algo especial e marcante que devemos levar conosco e dar valor, pois é o que nos faz quem somos.
Porém, temos também de dar espaço ao novo sempre, a novos sabores, texturas, odores, receitas, olhares. Nem tudo que é feio tem gosto ruim. Como existem lindas guloseimas que só nos ferram a saúde e nem são tão boas assim, vai!
Pensemos com esse preceito, de que a vida é quase que a padóca do Manel e diante deste preceito, o que nos faz realmente bem e o que não.
Guardemos as melhores receitas para serem refeitas e as nem tanto, que vão para o lixo.

E aí, qual vai ser a pedida de hoje?

Uma dica, vai tomando um suquinho de maracujá enquanto não se decide, que é preciso calma para boas decisões, pois algumas serão únicas, não só em qualidade, contudo também em quantidade.

Portanto, cuidado com o que come! ;)



Joy Mafaro