segunda-feira, 24 de maio de 2010

VIAGEM

Cartas de amor já escrevi,
para os meus amores passados,
e-mails de amor já escrevi,
para meus amores
um pouco mais recentes,
porém,
também passados
e cada vez que os leio
sinto-os marcados.
Quero a cura da arrogância
que me assombrava àquele tempo,
todavia ressurge
como fênix num tormento.
Discutia-se além,
sobre quem era o certo errado,
quem era o errado certo.
Quantas bobagens e tempo perdido.
Foi perdido o tempo?
Estou perdendo tempo?
Todo o passado
me assombra todos os dias,
mesmo adormecido aqui dentro
ele teima em despertar
de quando em quando.
Faz no peito germinar
a lembrança do pranto.
Do quão ferido estava naquele momento
e revivo de passados
e de tormentos.
Mas lembro-me com doçura
da sua mão na minha,
da minha mão segura.
Lembro-me dos beijos
suaves como pétalas,
da ingenuidade daquela época.
Faz carinho
e apazigua meu coração,
lembrar dos momentos bons.
Que comoção!
Quero partir de novo,
como sempre parti,
de vida em vida passei,
surgi,
sumi.
Vou entrar no espaço do hoje
e me encontro igual ontem,
meio perdido,
meio escondido,
de mim,
de todos,
de Deus
e do diabo também.
Sair correndo,
depois caminhar
e andar e andar.
Aonde vou chegar?
O poeta renasce em mim
nesse momento,
porque aqui dentro ele dizia:
Já não aguento!
Numa voz sufocada,
com as mãos atadas
as pernas sem movimento.
Está feito.
Voltando dali,
vim aqui
só pra dizer
que amo todos os amores passados,
amo o presente
e os que estão ao meu lado,
amo a quem ainda está por vir.
Permaneço aqui.
Eu tenho a glória de poder dizer,
amei e fui feliz.
Pois não há felicidade que perdure pra sempre,
mas muito fui
e muito sou pelo que fui.
Quero ter a honra de galgar cada degrau,
sabendo que tudo impulsiona ao irreal.
Quero amar sem igual,
quero me jogar e que seja natural.
Mas o medo vem
e todos os anseios
de tudo que se foi.
Por que eu queria aquele brinquedo e não o tive?
Não pude ter por dificuldades que passávamos
ou por algo que fiz para não conquistar o direito de ganhá-lo?
Agora é um pouco tarde,
crescido e aparecido.
Não posso mais ter brinquedos de criança,
não posso mais brincar com o que me dão,
nem quero mais encontrar crianças
que brinquem com meu coração.
Um pouco iludido,
um pouco desiludido.
Um pouco de verdade,
um monte de mentira.
Essa é a realidade nua e crua.
Vamos vesti-la,
pois isso é atentado ao pudor
e cozinhá-la,
quem sabe o gosto melhora.
Infelizmente é assim com as pessoas lá fora,
sim,
porque eu vivo aqui dentro
e esse é meu medo.
Sair!
Dá até um arrepio,
um frio
e um calafrio.
Quero algodão doce
igual ao daquela menina,
quero sol no dia de chuva
e menos calor no dia de sol.
Mas só o mormaço veio,
não gostei, não gostei.
Será que reclamar é tudo o que sei?
E se eu fosse falar do que sei,
o que falaria?
Difícil seria dizer do que sei,
já que forçando a mente nada flui.
Será que pensamento dilui?
Uma coisa eu sei fazer,
perguntas.
E as respostas virão?
Acho que de mim não.
Não com palavras
que eu possa escrever agora,
porém tudo tem seu tempo,
sua hora.
Deixa o tempo passar.
A vida está entre,
o entrar nos trilhos
e o descarrilar.
Em algum momento tudo entra nos eixos.
Há de entrar.
Por fim,
só queria dizer
o que talvez já tenha dito
por outros meios
que não o escrito.



Joy Mafaro (Meados de Janeiro de 2010.)