terça-feira, 14 de setembro de 2010
AERO PORTO
Deram-me asas para voar
e voei.
Bati-as até cansar,
num monte pousei.
Também posei para aqueles vários olhos
de várias formas,
cores
e em cada olhar um sentido,
um ângulo,
um foco.
Uma foto perdida em lembranças
como que em gavetas bagunçadas,
de vez em quando vasculhadas
querendo achar algo perdido.
E quem achou de novo
o que não era mais novo?
E quem sorriu ou chorou
ao lembrar daquela antiga imagem
de algo que nem sabia o que era?
Querendo ser ave,
querendo ser livre para voar,
achando ser possível ir além da estratosfera.
E quem soube o que acontecera
àquele ser que já não existe?
Que tinha doçura em sua tristeza calada,
sua paz abalada,
contudo mantinha o corpo esguio
e a cabeça levantada.
Se quem tem asas tem bico.
Quem tem bico sorri?
Sorri um canto novo a cada dia,
pois aprende um som diferente
quando canta novamente.
Se por algumas estripulias extrapoladas,
acabei com as asas machucadas
e por sorte não terem sido cortadas.
Aprendi a caminhar
para devagar
em algum lugar chegar.
No caminho cantando percebo
ouvidos aguçados
atentos a sons não tão perfeitos,
porém pelo coração orquestrados.
Sendo o som um novo sentido da vida,
nas canções mais coloridas,
asas começam movimentar.
Em suas batidas
meio descompassadas
com um ritmo contente
aprende lidar.
Dessas canções,
corpo e mente sãos
voltam a se mostrar.
Contudo agora de uma forma diferente
para olhos e ouvidos que quiserem apreciar.
E quem sabe
um pouco mais à frente,
eu até aprenda,
um pouco mais serena
e permita ousar.
Que toquem minhas penas,
me acarinhem
e com recíproca verdadeira,
pois nesse dia
não terei mais medo de amar.
(Joy Mafaro - 2008)
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